feliz aniversário, mãe...

e você nem dá os parabéns porque a única irmã viva, os outros dois netos e o outro filho não ligaram nem para saber se ela lembrava que hoje ela faz 80 anos. nem o bolo na geladeira fez com que ela pensasse em aniversário. e você fica quieta para que ela não deprima com o próprio esquecimento e com o esquecimento alheio. e pensa quão triste é essa doença que afasta os outros de você e que afasta você de você mesmo...

às vezes eu penso em voltar a blogar como antes. a blogosfera está em estado terminal. uma pena, porque nada substitui verdadeiramente isso aqui. 

os 140 caracteres do twitter não são suficientes, com um bando de gente falando ao mesmo tempo e ninguém ouvindo ninguém na maioria da vezes.

o facebook ( ou o mundo cor de rosa da barbie ) mistura álbum de fotos com livros de autoajuda e algumas coisas bacanas  ( e outras nem tanto, diga-se de passagem). 

fiz amizades bacanas graças a esse blog e é isso que me faz manter esse espaço. uma forma de homenagear os que vieram e ficaram.

e aí você se pega pensando no sim que não devia ter dito. no convite que devia ter recusado. no avião que não entrou. nos lugares que não conheceu. no curso que desistiu. no telefonema que não atendeu. na buzina que fingiu não ouvir. na resposta que não deu. no filme que não viu. na comida que não comeu. na roupa que não usou. nas bocas que nunca devia ter beijado. na faculdade  que não cursou. na foto que não foi tirada. no abraço que se perdeu. no sorriso que não ofereceu. nos livros que não devia ter emprestado. nas agendas que jogou fora. nas lembranças que foram queimadas. no caminho que devia ter escolhido. no atalho que ofereceram. nas músicas que não dançou. nos discos que arranhou. no filho que não teve.

podia ter sido pior? podia ter sido melhor? não sabe. sabe só que podia ter sido diferente.